4 de novembro de 2012

Crisólogos


A pedido de várias famílias – quer dizer, não foram várias, foi apenas uma pessoa que me enviou um mail – volto a publicar um estudo na área da etologia que fiz há uns tempos atrás, sem recurso a bolsa da FCT. Trata-se de uma investigação que me levou à certificação da existência de uma nova profissão em Portugal: o crisólogo.

Crisólogo FAQ

O que é um crisólogo?

É um indivíduo que julga saber tudo sobre a crise. Desenvolve inúmeros argumentos acerca das causas e diz muitas coisas acerca das soluções. Fala sempre como se estivesse 100% convicto daquilo que diz.


Os crisólogos são todos da mesma cor politica?

Não. Há crisólogos de esquerda, os que invariavelmente culpam o neo-liberalismo e o sistema financeiro internacional da crise. E há os de direita que atribuem as culpas todas ao estado social e à gratuitidade de alguns serviços públicos.


Os crisólogos são pagos?

Alguns são. Há crisólogos que se fazem pagar a peso de ouro por intervenções de meia-hora em universidades até aos que apenas escrevem em blogs e até são eles que pagam a conta da net para publicarem as babuseiras que lhes vêm à cabeça.


As soluções propostas pelos crisólogos são exequíveis?

Muito raramente. A grande maioria das soluções apresentadas pelos crisólogos, quer de esquerda, quer de direita, se fossem aplicadas, ainda deixariam a situação pior do que ela está.


O que é que um crisólogo mais teme?

Ser confrontado com a realidade. O crisólogo tem uma construção mental e de nada lhe interessa que o que diz não tenha o menor ligação ao mundo onde as pessoas habitam.


Os crisólogos têm todos a mesma prática?

Não. Há desde os crisólogos-algazarra que são os que falam e quando chega à vez dos outros falarem interrompem-nos constantemente para que não se entenda o que eles dizem (Joana Amaral Dias). Há os crisólogos-eminência que falam como se estivessem a prestar um favor às pessoas por estar ali a explicar a sua sapiência (Miguel Sousa Tavares). Há os crisólogos-carteiro que mais não fazem do que repetir aquilo que o seu partido defende (todos os do PCP). Há os crisólogos-engraçadinhos que, frase sim, frase não, metem uma piada, sem piada nenhuma, sobre o assunto (idiotas do Eixo do Mal). Há os crisólogos-excel que colocam dois números e uma estatística em cada frase (os chatos do Blasfémias).


Deve uma pessoa, no seu perfeito juízo, ouvir os crisólogos?

Se não tiver nada para fazer pode ouvir, nalguns casos é até divertido. Ana Drago (esquerda) e o filho do Luís Filipe Menezes (direita) são dois crisólogos que, com a capacidade de dizer parvoíces que têm, até podem divertir quem os ouve. Se tiver outras coisas para fazer, deve fazê-las que não perde nada em não os ouvir.


A nível internacional os crisólogos actuam da mesma maneira?

Quanto mais terceiro-mundista é o pais mais incipiente é o crisólogo. É possível ver um crisólogo em Inglaterra a falar de economia sabendo o que é gerir, ou a falar de filosofia sabendo o que é um conceito. Em Portugal o nível é fraquíssimo e é frequente depararmo-nos com Clara Ferreira Alves a falar de economia ou Alberto João Jardim a falar de filosofia, situações que, tanto uma como outra, de tão tristes, nem para rir dá.


Crisólogo já é mesmo profissão?

Ainda não há código para recibos verdes enquanto crisólogo. Ate lá registe-se como jornalista, professor ou advogado.


O crisólogo é ele próprio coerente com o que diz?

Raramente. É normal um crisólogo de esquerda sair da TV e ir jantar à Bica do Sapato. Assim como é possível ver um de direita enfiar o seu jeep BMW nas filas de trânsito para a Costa, carregado de iogurtes e sandes para almoçar na praia. António Carrapatoso (direita) veio defender o aumento de impostos na semana em que se soube que tinha processos por incumprimento fiscal na ordem dos 700 mil euros, por exemplo.


Tenho um filho que quer ser crisólogo. Que devo fazer?

Demova-o. Se não for suficiente, faça chantagem com a redução da mesada e as saídas à noite. Se tal não chegar, recorra à ameaça de violência física, reforçando sempre a ideia de que um crisólogo seria uma vergonha na família, pior do que adolescente grávida.


Há algo de positivo nos crisólogos?

Se estiver mesmo sem nada para fazer, pode gastar 10 minutos a ouvi-los, com o propósito de se divertir com as bacuradas que eles debitam. Carlos Abreu Amorim (direita) e Fernando Rosas (esquerda) são dois exemplos de indigência mental que só pode servir para fazer rir.


Estive demasiado tempo exposto às ideias de crisólogos. Que devo fazer?

Primeiro, deve parar imediatamente de os ouvir. De seguida, leia, ouça música, veja um filme, passeie e nos próximos tempos procure esquecer tudo o que eles disseram.


Apesar de tudo quero mesmo ser crisólogo. Que posso fazer?

Tenha Juízo. Vá para o jardim dar comida aos pássaros que dará um melhor contributo para a sociedade.

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